Este é o segundo de dois posts sobre minhas últimas férias, em outubro de 2019, quando conheci o sul da Patagônia argentina. O primeiro foi sobre El Calafate, a terra dos glaciares, que você pode lê-lo aqui. Depois de nos deslumbrarmos com as gigantescas geleiras, seguimos viagem até El Chaltén, a cidadezinha conhecida como a capital argentina do trekking.
El Chaltén me conquistou de primeira. Assim que pus meus pés neste pequeno povoado e dei de cara com a montanha Fitz Roy, fiquei encantada! Fui tomada por um entusiasmo e mal podia esperar para percorrer as suas trilhas que, diziam, nos brindam com paisagens consideradas das mais bonitas da Argentina. E eu queria comprovar isso com meus próprios olhos. Sua fama vai longe e atrai turistas do mundo inteiro, que vêm em busca dessa combinação perfeita de trekking e paisagens espetaculares. Desde 12 de janeiro de 2015, el Chaltén foi declarada oficialmente, pela Lei Nacional 27.055, a “Capital Nacional do Trekking”.
O vilarejo foi fundado em 12 de outubro de 1985, possui 34 anos de existência, e é a cidade mais jovem da Argentina. Sua fundação resultou de uma decisão geopolítica do governo argentino para ocupar aquela região, que até hoje não possui demarcação exata da fronteira com o Chile e que foi alvo de violentas disputas no passado.
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QUANDO IR?
A época mais recomendada é de novembro a março, quando o frio é menos intenso (porque embora seja verão, o frio é constante) e a neve não atrapalha o caminho. Fomos em outubro e ainda havia um pouco neve na subida da montanha para a Laguna de Los Tres, tornando mais complicada uma subida que já é difícil.
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COMO CHEGAR A EL CHALTÉN?
El Chaltén está localizada no sul da Patagônia, uma região pouco habitada, cuja distância entre as cidades ou povoados são enormes. Para se ter uma ideia, desde Bariloche, que fica no norte da Patagônia, são 1400 km de distância (algo equivalente entre Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu)
Desta forma, embora seja possível chegar em transporte rodoviário, seja carro ou ônibus, é preciso ter em conta que o tempo de viagem é bastante longo. Não há ônibus direto de Buenos Aires, seria necessário tomar um até Bariloche (23h de viagem) e então outro até El Chaltén (mais 18h de viagem).
Sendo assim, a forma mais rápida de se chegar é por via aérea. O aeroporto mais próximo de El Chaltén é o de El Calafate, a 200 km de distância. Aí sim, de lá é possível tomar um ônibus. Eles saem diariamente com destino a El Chaltén. A passagem custava 1800 pesos argentinos, (+/- 138 reais – valores referentes a out/19 e com cotação de 1 real = 13 pesos), ida e volta.
Ou alugar um carro e curtir as paisagens pelo caminho, e assim poder parar quando quiser para tirar fotos!
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ONDE SE HOSPEDAR?
Ao contrário de El Calafate, El Chaltén é uma cidade pequenininha, um vilarejo. No entanto, possui hospedagem para todos os gostos e bolsos. Inclusive, há vários campings, para quem gosta de acampar.
Havíamos reservado um quarto com banheiro privado no hostel Lo de Trivi. Porém, quando chegamos, o quarto não havia sido desocupado pelos hóspedes anteriores, que haviam saído de manhã muito cedo para fazer uma trilha e não haviam retornado. Então o dono do hostel nos conseguiu um quarto em outro hostel, o Pioneros del Valle, da mesma categoria. Mas eu achei esse segundo hostel um pouco melhor que o que havíamos reservado.
A hospedagem incluía café da manhã e, para as demais refeições, comprávamos alimentos no supermercado e cozinhávamos na cozinha do hostel.
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QUANTO TEMPO FICAR?
Muita gente vai a El Chaltén fazendo um bate-e-volta desde El Calafate. Acho válido, mas apenas para os que não têm interesse em fazer vários trekkings. Em um dia é possível fazer os que tem duração menos longa e de dificuldade baixa, como o da Laguna Capri (8 km ida e volta) ou o Mirador del Torre (7 km ida e volta). Ou os bem curtinhos, como os miradores Los Cóndores e Las Águilas (4 km ida e volta).
No entanto, para quem quer conhecer as várias paisagens deslumbrantes que suas trilhas oferecem, recomendo um mínimo de 4 dias.
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O QUE FAZER EM EL CHALTÉN?
Trilhas! Trilhas! E mais trilhas! Portanto, use roupas e calçados adequados para caminhadas e prepare uma mochila com lanche e água para passar o dia. E lembrando que TODO o lixo deve ser levado de volta, seja ele orgânico ou não. Ou seja, nada de deixar resto de frutas pelo caminho (isso pode alterar a alimentação da fauna local) e muito menos embalagens vazias.
Para fazer as principais trilhas, não é necessário a contratação de um guia, elas são bem demarcadas, com placas e indicações e podem ser feitas por conta própria. Como são muitas as opções, abaixo vou listar algumas e depois falar sobre cada uma delas
- Mirador Los Cóndores
- Mirador Los Cóndores e Mirador Las Águilas
- Laguna Torre
- Laguna De los Tres
- Mirador do Glaciar Piedras Blancas
- Laguna Capri
O Mirador do Glaciar Piedra Blancas e a Laguna Capri ficam no meio do caminho das trilhas que levam até a Laguna de los Três e são uma opção para quem não pretende ir até lá.
Além das trilhas, há uma série de outras atividades oferecidas em el Chaltén, como cavalgadas, pesca, escaladas, rafting, acampamentos e até trekking sobre uma geleira, o glaciar Cagliero! Tal como fizemos em El Calafate!
Uma excursão bastante recomendada, é a que vai até o Lago del Desierto.
Pode-se chegar em veículo próprio, seguindo pela Ruta Provincial 23, ou em vans, que saem de El Chaltén.
É uma região de uma beleza indescritível, a 37 km de El Chaltén, muito próximo à fronteira com o Chile. O lago, de águas azuis-turquesa, possui uma forma alongada, com cerca de 10 km de comprimento por 1 km de largura, rodeado de cadeias montanhosas e glaciares. Na ponta sul do lago, toma-se uma embarcação que navega por 30 minutos até o setor do glaciar Vespignani. Ao desembarcar, os visitantes têm três opções de trilhas, bem sinalizadas, que levam a diferentes mirantes naturais. Para obter mais informações sobre esses passeios e excursões, consulte aqui.
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MIRADOR LOS CÓNDORES E MIRADOR LAS ÁGUILAS
São as duas menores trilhas, têm respectivamente 2 km e 4 km (ida e volta), são bem fáceis e podem ser feitas em meio dia. Foram as primeiras trilhas que fizemos, na parte da tarde, no dia em que chegamos.
A trilha começa ao lado do Centro de visitantes e, após alguns metros, se separam em uma bifurcação.
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O Mirador de Los Cóndores fica em cima de uma pequena colina, de onde se tem uma vista panorâmica da pequena El Chaltén, do vale do Rio de las Vueltas e das montanhas Torre e Fitz Roy.
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Ficamos lá em cima por cerca de uma hora, tomando mates, apreciando a paisagem e o voo de um ou outro condor que resolvia passar por ali…
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Antes que escurecesse, fomos até o mirador Las Águilas. Foram uns 40 minutos a mais de caminhada até esse outro mirador. Dali, de um lado se tem uma ampla vista da planície patagônica com o lago Viedma ao fundo e de outro lado, a cadeia montanhosa onde predomina o monte Fitz Roy.
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MIRADOR E LAGUNA TORRE
No dia seguinte encaramos nossa primeira trilha longa, até a Laguna Torre. É considerado um trekking de dificuldade média, cujo percurso é de 9 km. Ou seja, são 18 km ida e volta.
A laguna fica aos pés da montanha Torre (que em espanhol se diz cerro) e do glaciar Grande, formando esses três elementos um cenário magnífico!
O caminho que leva até o início da trilha começa na Av. San Martin, ao lado da Hostería El Álamo. É bem fácil de achar, pois tem uma placa de indicação.
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A trilha é feita pelo meio do bosque e vai ganhando altura conforme se alinha com o curso do rio Fitz Roy. Fizemos a primeira parada para descanso no mirante da cascata Margarita. Dali, no outro lado do rio, se avista a pequena cascata e o vale do rio Fitz Roy.
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Três quilômetros mais adiante, mais uma parada no mirante do Cerro Torre. Deste ponto, se avista a cadeia montanhosa Adela e as agulhas de granito que compõe o cerro Torre.
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Após 3 horas e meia de caminhada, finalmente chegamos!
A laguna Torre é formada pelo degelo do glaciar Grande, a água tem um aspecto leitoso, e em seu espelho d’água flutuam enormes blocos de gelo que se desprendem do glaciar.
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O tempo estava nublado, fazia muito frio e havia bastante vento! Encontramos um lugarzinho para descansar e comer o lanche que havíamos levado. Ficamos ali por cerca de 1 hora, tiramos umas fotos e nos preparamos para voltar.
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A volta foi um pouco mais rápida, às 19h já estávamos de volta ao Hostel. Precisávamos descansar bem, pois no dia seguinte a trilha seria mais longa e mais hard.
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LAGUNA DE LOS TRES
A beleza extraordinária das paisagens desse caminho fazem desse trekking o mais famoso e o mais procurado em El Chaltén. Chegar até a laguna de Los Tres é um grande desafio, pois é o ponto mais próximo do maciço do Fitz Roy.
Essa montanha é, sem dúvidas, a estrela daquela região. Ela é facilmente reconhecível pelas gigantes agulhas e paredões muito grandes que chegam a mais de 3400 m de altitude e que a tornam mortal! Muitos escaladores experientes já morreram tentando escalá-la..
O trekking é de aproximadamente 20 km (ida e volta) e há duas maneiras de iniciá-lo: Por El Chaltén ou pela Hostería El Pilar, que fica a 15 km de distância de El Chaltén. São dois inícios bem diferentes entre si, pois começando a trilha por El Chaltén, a paisagem inicial é o belo vale do Río de Las Vueltas. Já o começo pela Hostería El Pilar, é por um lindo bosque. Os dois caminhos se juntam no acampamento Poincenot, de onde se segue até a Laguna de Los Três.
- Começando por El Chaltén: No final da Avenida San Martin, que é a principal avenida da cidade, tem uma placa que indica o início da trilha. Essa é a principal vantagem de começar por aqui, a proximidade com o povoado. A desvantagem é que o caminho já inicia com uma considerável subida, o que pode levar ao cansaço mais rápido.
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Essa trilha também é o início de outras trilhas, que levam à Laguna Capri e à cascata Chorrillo del Salto. Existe um acampamento próximo às margens da lagoa e vimos algumas pessoas acampadas por lá. A lagoa é linda, de águas muito cristalinas.
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- Começando pela Hostería El Pilar: A trilha começa no terreno da hostería, que fica a uns 15 km de El Chaltén, percorrendo um bosque que parecia saído de um conto, de tão bonito. Lembrando que esse trecho está localizado em uma propriedade privada, seus proprietários permitem o ingresso livre e gratuito, com a condição de se respeitar normas como: não deixar lixo, não fazer barulho e não se desviar do caminho demarcado.
Consideramos essa a melhor opção, pois a ida e a volta são feitas por caminhos diferentes, já que a volta é feita pelo caminho comentado no tópico anterior, que leva a El Chaltén. Dessa maneira, se tem a oportunidade de contemplar as paisagens de ambos caminhos. Para a ida, contratamos uma van pela agência Cal-Tur (que ficava ao lado do nosso hostel) que nos deixou na porta da hostería El Pilar, e custou 300 pesos por pessoa (+/- 25 reais).
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Nessa trilha, após 4 km de caminhada, se encontra o mirante do Glaciar Piedras Blancas. Ficamos um bom tempo ali, admirando a beleza fantástica daquela paisagem.
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Seguimos por mais 4 km até chegar ao acampamento Poincenot, que é o ponto onde se unem as duas trilhas que servem de início para esse trekking. A partir desse ponto são mais dois quilômetros até a laguna. O primeiro quilômetro é bem tranquilo, atravessamos uma ponte sobre o Rio Blanco, e paisagem nesse trecho é muito linda…
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Já o último quilômetro, mais precisamente os últimos 500 m que são subida, são bem difíceis e requerem muito esforço. Paramos algumas vezes para descansar e vi muitas pessoas desistindo, principalmente porque havia trechos com gelo e o solo estava bem escorregadio.
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Subimos devagar, no nosso ritmo, e todo sacrifício foi recompensado ao nos deparar com aquela paisagem. A Laguna estava congelada, e não azulzinha como víamos nas fotos, mas nem por isso menos bela. O céu, a princípio muito nublado, foi se tornando azul, mas o vento gelado era implacável. Ainda assim permanecemos por bastante tempo lá em cima.
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Hora de descer e fazer o caminho de volta. Fizemos os 10 km de ida em pouco mais de 4 horas e meia ( contando com a parada para fotos no mirante do Glaciar Piedras Blancas). Voltamos pelo caminho que leva a El Chaltén, passando pela Laguna Capri.
Chegamos a El Chaltén ainda a tempo de pegar a festa de comemoração dos 35 anos de sua fundação, e a pequenina cidade era pura agitação! Chegamos cansados, mas felizes pelo dia maravilhoso que tivemos. Sim, El Chaltén foi simplesmente inesquecível!
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Quem saber faço minha proxima viagem internacional pra essa região?
Que lugar incrivel! Me lembrou Mendoza!
Ahhh, tomara Caroline! Se voce gosta de fazer trilhas, esse é o lugar!
Adorei seu post, já coloquei aqui nos favoritos, pois quero fazer esse destino com meu marido.
Legal, Hebe! Tomara que possamos todos voltar a viajar em breve! 😉
AMEI as dicas, meu sonho conhecer a Patagônia!!! Ótimo saber que precisaria de 4 dias no local
Olá Dora! Tomara que isso seja possível logo! Sim, 4 dias… talvez até mais, se você quiser descansar entre os trekkings mais longos…
Nossa, que post mais completo sobre El Chalten! Quero tanto, tanto, tano conhecer. As paisagens são de tirar o fôlego e que charmoso o local onde se hospedaram. Ameiiiii.
Obrigada, Ju! <3 Fico muito feliz que tenha gostado!
Que lugar incrível! Se tudo der certo, vou em dezembro! Já salvei todas as dicas!
Que legal, Marcela! Estamos todos torcendo para que tudo dê certo e volte ao “normal”.
Estava procurando dicas sobre a Patagônia de amei essa dica ! Que lugar lindo, já inclui na lista 🙂
Inclui sim, Priscila! É sucesso na certa! 😉
Sou louca pra conhecer a Patagônia!!! Amei as dicas, já vou querer me programar pra tirar esse sonho do papel!!!
Que se cumpra logo, Larissa! 🙂
De fato, seu artigo foi muito bem explicado gostei de ler.
Capixaba cap Ao vivo